História

Ciclismo – A génese do Carcavelos

Lisboa, 15 de Maio de 1927… Última etapa da primeira Volta a Portugal em bicicleta.

A capital vivia desde o princípio da tarde horas de ansiedade: «Um mar imenso de cabeças, um mar comprido e negro agitava-se em grandes ondas, ondas humanas que, de vez em quando, tentavam atravessar a parte vedada da Avenida (da Liberdade)». O jornalista do Diário de Notícias – periódico que organizou a prova – reproduzia assim a euforia da multidão que se multiplicava em apostas. O nome do vencedor continuava a ser um enigma…

As horas de espera «à torreira do sol» foram finalmente recompensadas. A moto do director da corrida anunciou o comandante da etapa. A multidão, primeiro incrédula, avistou pouco depois «do alto da Avenida, deslizando com uma velocidade incrível o primeiro ciclista». O vencedor da Volta, António Augusto Carvalho, apesar da dureza da última etapa, uma das que tinha piores estradas, ria-se alegremente admirado da grande ovação que lhe fizeram». Foi então levado ao colo desde a meta, na faixa central da Avenida, entre o cinema Condes e a Calçada da Glória, até ao posto médico onde foi examinado.

Estava escrita uma página de glória na história de um pequeno grande clube: o Grupo Sportivo de Carcavelos. É que, além do vencedor, também os restantes elementos da equipa do G.S.C. alcançaram óptimas posições. Aníbal Firmino da Silva, que viria a revelar-se um dos grandes nomes do ciclismo português, foi 5º e o Arnaldo Gonçalves 9º em Fortes. Em Fracos, António Marques foi 1º classificado, logo seguido por José Maria Pio. O Carcavelos conseguiu assim, o primeiro lugar na classificação por equipas.

Para trás tinham ficado momentos difíceis, desde que os corredores partiram, no dia 26 de Abril, do Cais do Sodré para começar a Volta na Cova da Piedade. Milhares de pessoas saíram à rua dizer adeus a estes homens que se aventuraram a percorrer 1965 km de estradas esburacadas e sinuosas. Ao longo das dezoito etapas, os ciclistas enfrentaram grandes obstáculos. Um dos maiores era, contudo, a fiel companheira de duas rodas. As bicicletas pesavam então qualquer coisa como vinte quilos e muitas foram as vezes em que os homens do pedal tiveram que levantá-las, obrigados a atravessar riachos onde a água chegava à cintura. O núcleo de apoio aos corredores do Carcavelos era constituído por António Capitão, Vicente Rola, «Carlinhos» Fernandes e «Pescadinha».

Alimentação regrada era coisa que não existia. Segundo o sócio nº 11 do G.S.C., Armindo Lopes da Silva – então um rapaz de 15 anos «doente» pelo ciclismo – nas Caldas antes da partida, os homens do Carcavelos reuniram-se à volta de um enorme alguidar cheio de batatas e bacalhau. Um autêntico «dopping» à maneira dos anos 20 para aqueles que, nesse Domingo de 1927, foram recebidos em braços pela população de Carcavelos e arredores que nunca pôs em dúvida a capacidade dos seus craques para vencer a prova. A rua da entrada da vila e a principal praça estavam cheias de verduras, flores e bandeiras e ao barulho da multidão juntava-se a música da Sociedade Recreativa e Musical de Carcavelos e da Troupe Caparidense.

Esta era a segunda importante vitória dos ciclistas do Grupo Sportivo. Antes, a equipa tinha-se sagrado vencedora na Taça «Conde de Fontalva» instituída para a prova Lisboa – Arco de Dona Maria (Belas) – Lisboa num total de 50 km.

in Grupo Sportivo de Carcavelos, 75 anos na vida de um clube

Comments are closed.